Thursday, March 25, 2010

Herbert de Perto









Documentário sobre Herbert Vianna evita o melodrama

Cinebiografia narra a trajetória do líder e cantor da banda Paralamas do Sucesso


SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA

Sentado diante de um aparelho de TV, Herbert Vianna assiste a uma imagem antiga dele mesmo, captada na segunda metade dos anos 80. Olhar confiante, à beira da arrogância, o então jovem músico em ascensão no cenário do rock nacional fala sobre o futuro com ares de quem acredita mantê-lo sob controle.

Diante dessa manifestação quase constrangedora de prepotência, o Herbert de hoje sorri e comenta que o Herbert de ontem - ao menos o que aparece naquelas imagens, inquieto e "bocudo"- era um bobo, não sabia nada da vida. O processo se repete mais algumas vezes, com cenas do passado, pessoal e profissional, revistas por ele.


Mais do que apenas oferecer espaço para esse processo de autorreflexão, o documentário "Herbert de Perto" adota uma estrutura que convida seu personagem a olhar para a própria trajetória e reavaliá-la, de modo às vezes rigoroso, às vezes carinhoso, mas sempre com a disposição de encarar sem pudores o que passou.


Somente o fato de aceitar esse convite para uma autoanálise em arena pública diz muito sobre a personalidade que os diretores procuram investigar, com o uso de cenas de arquivos e dezenas de entrevistas. O resultado tende a agradar especialmente aos fãs do músico, mas não se confunde com um filme de fã, inclusive porque o próprio Herbert, ao falar de si mesmo, mata na raiz qualquer tentativa de criar um mito em torno dele. Impõe-se, por contraste, a ideia de que estamos diante de um trabalhador da música que nunca deixou de fazer a lição de casa.


Na primeira parte, o documentário explora as circunstâncias em que Herbert se aproximou do rock e conheceu os parceiros que formariam com ele os Paralamas do Sucesso. Ao se dedicar à fase inicial na carreira da banda, o documentário ajuda também a entender o cenário pop da cultura brasileira dos anos 80. Entre as músicas e cenas de show, alguns momentos se destacam, como a apresentação na primeira edição do Rock in Rio, em 1985, a proximidade de Herbert com a Argentina e a gravação de "Uma Brasileira".


A frase "one more time", que se repete em canção, ainda ecoa quando o título se dedica ao "segundo tempo" do personagem, em seguida ao acidente com um ultraleve em Angra dos Reis, em 2001, que matou sua mulher e o deixou paraplégico.


Embora as lágrimas corram em alguns depoimentos e a emoção suba de tom, não se adota uma perspectiva choramingas. Ao contrário: o processo de recuperação é exposto com sobriedade e bom humor, sobretudo quando são apresentados os detalhes de sua nova rotina e a continuação da carreira com a gravação de "Hoje".


Até mesmo a que talvez seja a mais emotiva das sequências do filme, em que Herbert canta em homenagem à memória da esposa, sentado à mesa com a família, termina registrado pela câmera de um modo tão íntimo e caseiro que o sentimentalismo não se sente autorizado a se intrometer naquele momento.


HERBERT DE PERTO

Direção: Roberto Berliner e Pedro Bronz
Avaliação: bom

(Folha de São Paulo, 9 de outubro de 2009)

Saturday, December 19, 2009

Caricaturas de Rodrigo Espiña

Vejam as caricaturas que estão à venda na Casa de Cinema por R$ 25,00 (vinte e cinco reais). Bela opção para presente neste fim de ano, não?

Tamanho: A3 (29,7 x 42 cm)
Papel: Couchê fosco

Atenção: só há uma unidade disponível de cada modelo para entrega imediata. Portanto, corra!

Abraços e ótimo Natal















Wednesday, September 02, 2009

Mais de 150 filmes novos em três meses





















A Casa de Cinema não perde o ritmo e continua trazendo as maiores novidades até você. Somente nos últimos três meses, recebemos mais de 150 (cento e cinquenta) títulos. A lista abrange desde clássicos como O Mensageiro do Diabo até produções recentes, como Entre os Muros da Escola.

Confira abaixo a lista de filmes que recebemos desde 01/06/09:


1900
9 1/2 semanas de amor
aborto dos outros,o
adeus meninos
adoraveis mulheres
agonia e extase
alice no pais das maravilhas - tcheco
amantes do circulo polar,os
amor alem da vida
amor e raiva
anchieta-jose do brasil
anima mundi-vol.3
anima mundi-vol.4
anima mundi-vol.5
anima mundi-vol.6
anna karenina
anna karenina
apenas uma vez
appaloosa-uma cidade sem lei
australia
batalha do chile,a-extras
batalha do chile,a-vol.3
cadillac records
candelabro italiano
cao e a raposa,o
carruagem de ouro,a
casa monstro,a
castelo de minha mae,o
charada
charlie-um grande garoto
cinema paradiso - versao estendida
clifford-o gigante cao vermelho
cobra verde
conexoes criativas
coraline e o mundo secreto
curioso caso de benjamin button,o
dama das camelias,a
dama das camelias,a
dead man
depois do ensaio
deserto dos tartaros,o
deserto vermelho
diabo a quatro
diario de anne frank,o
diga sim
dinheiro,o
do luto a luta
do outro lado
duquesa,a
em busca da vida
em paris
embriaguez do sucesso,a
emmanuelle 2
encarnacao do demonio
entre os muros da escola
estomago
estranhos no paraiso
feliz natal
fellini roma
fellini-a historia de um mito
fernao capelo gaivota
foi apenas um sonho
frankenstein de mary shelley
garota irresistivel,uma
garoto selvagem,o
girassois da russia,os
gloria de meu pai,a
gomorra
gran torino
guerra dos botoes,a
guerra e paz
homem que virou suco,o
homo sapiens 1900
identificacao de uma mulher-edicao espec
inquilino,o
intervalo clandestino
laura
leitor,o
lemon tree
leonera
longe dela
lua cheia
macbeth-reinado de sangue
madame bovary
madre joana dos anjos
mandela-luta pela liberdade
marley e eu
maskara,o
medos privados em lugares publicos
meio poeta
melodia da broadway de 1929
mensageiro do diabo,o
meteorango kid,doce amargo,a fonte
milk-a voz da igualdade
moca com a valise,a
muito barulho por nada
napoleao
ninho vazio
ninotchka
no calor da noite
noel-o poeta da vila
noite do desejo,a
noite dos mortos vivos,a
noites de tormenta
nome proprio
nossa vida nao cabe num opala
olho do diabo,o
operacao dragao
orquestra dos meninos
ovo da serpente,o
pacto de justica
pai e filho
pantera nua,a
partner
pequeno diabo,o
permanent vacation
persepolis-edicao especial
policarpo quaresma, o heroi do brasil
por quem os sinos dobram
por uma vida menos ordinaria
primeira noite de tranquilidade,a
primeira pagina,a
processo de joana d arc,o
profissional,o
quatro minutos
queimando ao vento
queime depois de ler
quem quer ser milionario?
quero
questao humana,a
rebeldia indomavel
rebobine, por favor
rede de mentiras
rio congelado
rito,o
romeu e julieta
rosto,o
rudo e cursi
salo ou 120 dias de sodoma
satyricon de fellini
se eu fosse voce 2
segredo do grao,o
senhor das moscas, o
shine brilhante
socrates
sol da meia noite,o
tarzan 2
tempo e o vento,o
terceiro homem,o
terra vermelha
the beatles help!
the commitments-loucos pela fama
the doors-edicao de luxo
tortura do medo,a
troca,a
ultima sessao de cinema,a
um heroi do nosso tempo
um homem bom
um homem chamado cavalo
uma garota dividida em dois
uma licao de amor
verao violento-edicao especial
vida de leonardo da vinci,a
vida num so dia,a
vila sesamo-brincando com enio e beto
virgem de 40 anos,o
visitantes 2,os
yellow submarine

Monday, August 24, 2009

Veja mais lançamentos


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www.casadecinema.com.br


Friday, August 21, 2009

100 filmes essenciais





















Está nas bancas a edição especial da Bravo!, que aponta 100 filmes essenciais. A revista, que já havia sido editada, ganha agora uma revisão. Que tal aproveitar para conhecer a lista e e locar os filmes na Casa de Cinema? Abaixo, em negrito, os filmes que você encontra aqui:

01. Cidadão Kane (1941), de Orson Welles
02. O Poderoso Chefão (1972), de Francis Ford Coppola
03. Sindicato de Ladrões (1954), de Elia Kazan
04. Um Corpo Que Cai (1958), Alfred Hitchcock
05. Casablanca (1942), de Michael Curtiz
06. Oito e Meio (1963), de Federico Fellini
07. Lawrence da Arábia (1965), de David Lean
08. A Regra do Jogo (1939), de Jean Renoir
09. O Encouraçado Potemkin (1925), de Sergei Eisenstein
10. Rastros de Ódio (1956), de John Ford
11. Cantando na Chuva (1956), de Gene Kelly e Stanley Donen
12. Crepúsculo dos Deuses (1950), de Billy Wilder
13. Persona (1966), de Ingmar Bergman
14. O Mensageiro do Diabo (1955), de Charles Laughton
15. 2001 – Uma Odisséia no Espaço (1968), de Stanley Kubrick
16. Os Sete Samurais (1954), de Akira Kurosawa
17. O Leopardo (1963), de Luchino Visconti
18. Taxi Driver (1976), de Martin Scorsese
19. Era uma Vez em Tóquio (1953), de Yasujiro Ozu
20. Fitzcarraldo (1982), de Werner Herzog
21. Acossado (1959), de Jean-Luc Godard
22. Jules e Jim (1962), de François Truffaut
23. O Conformista (1970), de Bernardo Bertolucci
24. Em Busca do Ouro (1925), de Charles Chaplin
25. Metrópolis (1926), de Fritz Lang
26. O Sétimo Selo (1956), de Ingmar Bergman
27. A Aventura (1960), de Michelangelo Antonioni
28. Amarcord (1973), de Federico Fellini
29. Viridiana (1961), de Luis Buñuel
30. Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (1977), de Woody Allen
31. O Nascimento de uma Nação (1915), de D. W. Griffith
32. Apocalypse Now (1979), de Francis Ford Coppola
33. Era uma Vez no Oeste (1968), de Sérgio Leone
34. Assim Caminha a Humanidade (1956), de George Stevens
35. Psicose (1960), de Alfred Hitchcock
36. O Martírio de Joana D’Arc (1928)
37. Touro Indomável (1980), de Martin Scorsese
38. Olympia (1938), de Leni Riefenstahl
39. O Falcão Maltês (1941), de John Huston
40. Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964), de Glauber Rocha
41. Dr. Fantástico (1964), de Stanley Kubrick
42. Roma, Cidade Aberta (1945), de Roberto Rossellini
43. A Doce Vida (1960), de Federico Fellini
44. Chinatown (1974), de Roman Polanski
45. A Felicidade Não se Compra (1946), de Frank Capra
46. …E o Vento Levou (1939), de Victor Fleming
47. Tempos Modernos (1936), de Charles Chaplin
48. A Um Passo da Eternidade (1953), de Fred Zinnermann
49. O Sacrifício (1986), de Andrei Tarkovski
50. Laranja Mecânica (1971), de Stanley Kubrick
51. A General (1927), de Buster Keaton
52. O Homem Elefante (1980), de David Lynch
53. O Mágico de Oz (1939), de Victor Fleming
54. Querelle (1982), de Rainer Werner Fassbinder
55. A Primeira Noite de um Homem (1967), de Mike Nichols
56. Morte em Veneza (1971), de Luchino Visconti
57. A Última Sessão de Cinema (1971), de Peter Bogdanovich
58. Os Bons Companheiros (1990), de Martin Scorsese
59. Blade Runner – O Caçador de Andróides (1982), de Ridley Scott
60. A Malvada (1950), de Joseph L. Mankiewicz
61. Nosferatu (1922), de Friedrich W. Murnau
62. O Último Tango em Paris (1972), de Bernardo Bertolucci
63. Ladrões de Bicicleta (1948), de Vittorio de Sica
64. Asas do Desejo (1987), de Wim Wenders
65. Pulp Fiction – Tempo de Violência (1994), de Quentin Tarantino
66. Repulsa ao Sexo (1965), de Roman Polanski
67. Crimes e Pecados (1989), de Woody Allen
68. Uma Rua Chamada Pecado (1951), de Elia Kazan
69. Butch Cassidy e Sundance Kid (1969), de George Roy Hill
70. Os Imperdoáveis (1992), de Clint Eastwood
71. Patton – Rebelde ou Herói? (1969), de Franklin J. Schaffner
72. Tudo Sobre Minha Mãe (1999), de Pedro Almodóvar
73. Um Lugar ao Sol (1951), de George Stevens
74. Um Estranho no Ninho (1975), de Milos Forman
75. Amor à Flor da Pele (2000), de Wong Kar-Wai
76. Hiroshima, Meu Amor (1959), de Alain Resnais
77. Kaos (1984), de Irmaõs Taviani
78. Brazil, O Filme (1985), de Terry Gilliam
79. Quanto Mais Quente Melhor (1956), de Billy Wilder
80. Cidade de Deus (2002), de Fernando Meirelles
81. Os Homens Preferem as Loiras (1953), de Howard Hanks
82. Um Cão Andaluz (1928), Luis Buñuel
83. Los Angeles – Cidade Proibida (1997), de Curtis Hanson
84. Pixote – A Lei do Mais Fraco (1981), de Hector Babenco
85. Ben-Hur (1959), de William Wyler
86. Fantasia (1940), de Walt Disney
87. Sem Destino (1969), de Dennis Hopper e Peter Fonda
88. Dogville (2003), de Lars Von Trier
89. O Império dos Sentidos (1976), de Nagisa Oshima
90. Um Convidado Bem Trapalhão (1968), de Blake Edwards
91. A Lista de Schindler (1993), de Steven Spielberg
92. Guerra nas Estrelas (1977), de George Lucas
93. O Pântano (2000), de Lucrecia Martel
94. Cabaré (1972), de Bob Fosse
95. Operação França (1971), de William Friedkin
96. King Kong (1933), de Merian C. Cooper e Ernest B. Schoedsack
97. As Invasões Bárbaras (2003), de Denys Arcand
98. Fargo (1996), de Joel e Ethan Cohen
99. M.A.S.H. (1970), de Robert Altman
100. Lavoura Arcaica (2001), de Luiz Fernando Carvalho

Friday, October 31, 2008

As Leis de Família (Argentina)


Derecho de Familia (2006). Dir: Daniel Burman. Com: Daniel Hendler, Julieta Diaz

Folha de São Paulo, 3 de agosto de 2007

Burman faz belo estudo dos papéis sociais


CÁSSIO STARLING CARLOS



CRÍTICO DA FOLHA



Não é apenas com grandes filmes que diretores constroem obras sólidas. Alguns optam por um cinema "menor", sem altos vôos estilísticos ou temáticos, para afirmar um ponto de vista singular, uma poesia em pequena escala -e nem por isso menos relevante. O caso do argentino Daniel Burman é característico dessa escolha.

Desde seu segundo longa, "Esperando o Messias", feito em 2000, ele se afirmou como um dos talentos do novo cinema argentino que invadiu o mundo e chamou o interesse de crítica e público. "Todas as Aeromoças Vão para o Céu" e, sobretudo, "O Abraço Partido", seus trabalhos seguintes, vieram confirmar uma opção pelo detalhe e um gosto pela crônica cotidiana, sempre marcados pelo humor judaico.

Com "Leis de Família", Burman reitera seu vocabulário e ao mesmo tempo busca encontrar saídas para não ser identificado como um cineasta que faz sempre o mesmo filme. Em seu novo longa, Burman recorre mais uma vez ao fiel Daniel Hendler, uma espécie de alter ego do diretor. Hendler vive Ariel Perelman, um professor de direito também filho de um advogado, com o qual mantém um relacionamento ao mesmo tempo afetuoso e conflitante.

A família é o tema recorrente dos filmes de Burman, que persegue seus meandros como um moralista, tentando enxergar o descompasso entre impulsos individuais e funções sociais pré-determinadas. A presença recorrente de Hendler aproxima os filmes de Burman do ciclo Antoine Doinel, em que Truffaut seguia as mutações existenciais do personagem de Jean Pierre Léaud, da infância à idade adulta.

Só que, em vez de repetir o foco nas relações amorosas, Burman as desloca para o campo dos papéis sociais. Em "Leis de Família", esse interesse se renova na sobreposição de lugares de seu protagonista, ao mesmo tempo filho e pai, que se vê obrigado a tolerar as divergências fora de casa e a reproduzir funções familiares dentro de casa. Nessa ambigüidade, o que Burman consegue representar com vivacidade é o descompasso entre as leis e os fatos, entre a determinação e o livre-arbítrio, do qual ninguém se encontra a salvo.

Avaliação : ótimo

O Sobrevivente


Rescue Dawn (2006) Dir: Werner Herzog. Com: Christian Bale.

Folha de São Paulo, 7 de dezembro de 2007

Distante do seu melhor, diretor faz cinema íntegro

INÁCIO ARAUJO

CRÍTICO DA FOLHA

As duas horas de "O Sobrevivente" podem ser divididas em duas partes quase idênticas. Na primeira, o tenente Dieter Ziegler, piloto da Marinha dos EUA no Vietnã, é designado para missão no Laos. Estamos em 1965, a guerra no Vietnã ainda não tem a extensão que iria adquirir, e a missão de bombardear alvos estratégicos no Laos é absolutamente confidencial.

Ziegler tem o avião derrubado, é feito prisioneiro pelos vietcongues, dos quais consegue escapar pela selva. Não há muito segredo sobre o fim deste filme: sendo baseado na autobiografia de Ziegler, é evidente que ele consegue escapar. A questão não é essa, e sim: como? Werner Herzog, que se notabilizou como um dos mais importantes cineastas alemães dos anos 60 e 70, ultimamente tem se destacado como documentarista.

E o documentário, como se sabe, exige menos de um cineasta do que a ficção: é questão apenas de saber deixar o mundo vir a si. Não é tão simples quanto parece, mas é mais fácil do que ir ao encontro do mundo, transformá-lo e torná-lo digno de crédito. Em "O Sobrevivente", a primeira metade é apenas sofrível. Não pela modéstia dos efeitos especiais. É que Herzog não parece se interessar pelos aspectos que precedem a fuga: o encontro com outros prisioneiros, as violências a que são submetidos, a permanente ameaça de morte e a maneira como, aos poucos, Ziegler se impõe como líder aos colegas e comanda os planos de fuga.

A segunda metade é de outra ordem. É questão de dois homens -Ziegler (Christian Bale) e seu colega Duane (Steve Zahn)- e uma selva. A selva e suas adversidades. A natureza com a qual esses homens se defrontam a cada instante para sobreviver, até que, por fim, possamos observar talvez o melhor do filme: a transformação de Ziegler em um homem-natureza -uma espécie de identificação completa, na maneira de se ocultar, se alimentar, se proteger dos perigos.

Nesses momentos, parece que estamos de novo diante do Herzog dos velhos tempos, embora num mundo diferente: em que o controle sobre a produção parece relativo, em que sofre com a iluminação óbvia e mesmo com a necessidade de seguir um roteiro nem sempre favorável. Enfrentando (em selvas da Tailândia) adversidades, Herzog não cede a tentações a que raramente escapam os cineastas, como o sentimentalismo. "O Sobrevivente" não será nunca seu melhor filme, mas é de uma integridade formidável.

Avaliação: Bom

Friday, August 08, 2008

Desejo e Reparação

Desejo e Reparação (2007) Dir: Joe Wright. Com: Keira Knightley.

Folha de São Paulo, 10 de janeiro de 2008


Diretor usa formas clássicas para fazer cinemão dos bons

CÁSSIO STARLING CARLOS



Cinemão (tal como teatrão) é um termo que se usa, com intenção quase sempre pejorativa, para designar obras que recorrem a todo o arsenal de formas clássicas de representação com o objetivo de agradar o maior número possível de pessoas. Filmes que ganham Oscar, por exemplo, quase sempre são cinemão.

"Desejo e Reparação" é cinemão e deve fazer um arrastão no Globo de Ouro e no Oscar. Mas, neste caso, todo o repertório clássico convocado pelo diretor Joe Wright em seu segundo longa não se esgota na necessidade de agradar um gigantesco público. Do mesmo modo que Ian McEwan dialoga com princípios fundamentais da narrativa em "Reparação", romance que deu origem ao filme, o diretor consegue estabelecer com a imagem clássica e, sobretudo, com a ordem em que elas se mostram ao espectador um jogo que traz à tona uma questão crucial a ambos relatos: o que distingue fato e ponto de vista na história literária? O que distingue imagem e imaginação na narrativa cinematográfica?

Todo relato conta uma história, como se convencionou. Seus sentidos, porém, podem variar radicalmente conforme quem a narra e como. McEwan propõe essa indagação ao retomar temas de Jane Austen e Henry James sem fazer pastiche de autores clássicos. E o filme consegue estabelecer o mesmo diálogo com o cinema britânico, reencontrando alturas de Michael Powell e David Lean, sem para isso se reduzir ao decorativo, como muito se viu nos filmes de James Ivory. Muita gente vai achar o filme uma obra ultrapassada, mero cinemão. Que seja. Mas, ao lado de "A Espiã", de Paul Verhoeven, que também estréia amanhã, há muito tempo não se via cinemão tão espetacular.

Cotação : Ótimo