Thursday, August 07, 2008

Fabricando Tom Zé







Fabricando Tom Zé (2007). Dir: Décio Matos Jr.









Folha de São Paulo, 13 de julho de 2007


José Geraldo Couto


"Fabricando Tom Zé", apesar do gerúndio, é um bom título, pois o documentário de Decio Matos Jr., em vez de nos dar um retrato acabado de seu personagem, busca captar seu processo de construção. Não apenas da construção de sua arte, mas da construção do próprio artista.



O grande trunfo do filme é o de ter acompanhado de perto -talvez fosse melhor dizer "de dentro"- uma turnê de Tom Zé pela Europa em 2005, registrando no calor da hora os bastidores, ensaios, expectativas, reações, além de trechos dos shows propriamente ditos.



As relações entre Tom Zé e os locais em que se apresenta -Paris, Roma, Turim, Montreaux- são uma mescla de fascínio e espanto recíprocos. Não é um triunfo contínuo e tranqüilo. Há momentos de profunda incompreensão (como a sonora vaia em Vennes), quando não do atrito mais violento (como em Montreux, onde o artista literalmente peita um engenheiro de som suíço aos gritos de "Vá pra porra!").



Intercalados ao registro da excursão européia, depoimentos de músicos, amigos e estudiosos procuram dar conta da complexidade desse criador singular e da sua problemática inserção na chamada linha evolutiva da MPB. Emerge dessa busca um Tom Zé cheio de arestas e paradoxos: o mais sofisticado e ao mesmo tempo mais rústico dos nossos compositores populares, o mais doce e o mais intratável, o mais universal e o mais preso à sua aldeia ("No fundo ele nunca saiu de Irará", diz Neusa Martins, sua mulher e empresária).



A infância no interior da Bahia, a formação musical com Joachin Kollreuter e Walter Smetak, a adoção de São Paulo, a associação com os tropicalistas, o ostracismo, o renascimento pelas mãos de David Byrne, o reconhecimento tardio, as experiências que nunca terminam, está tudo no filme. (Ou quase: faltou falar da interlocução com Rogério Duprat.)



Documentário admirável, em suma, que não sufoca seu retratado sob o peso da homenagem, mas, ao contrário, colhe-o no contrapé, como uma contradição andante, "com defeito de fabricação" (título de um CD seu), com alguns parafusos a menos ou a mais.



Cotação: Bom

1 Comments:

At 11:29 AM, Blogger Jalusa Arruda said...

Tive a oportunidade de ver este filme no cinema e é um grande presente para quem é fã deste gênio da música brasileira. Para quem ainda não é fã de Tom Zé, o filme mostra-se como uma valiosa oportunidade de conhecer um pouco -simples e francamente - das performances e das possiblidades do artista que por muito tempo fora (injustamente) esquecido pelo público. Vale a pena!!

 

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