Terra de Ninguém
TERRA DE NINGUÉM (Badlands, 1973), de Terrence Malick, com Sissy Spacek, Martin Sheen, Warren Oates.
ANDRÉ SETARO (exclusivo para a Casa de Cinema)
Cineasta bissexto, Terrence Malick, o diretor de Terra de Ninguém (Badlands), realizou, em quase quatro décadas, apenas três filmes: este de estréia, em 1973, o aclamado Cinzas no Paraíso (Days of heaven), que no lançamento do DVD virou Dias no Paraíso, em 1978, e desapareceu, para ressurgir, redivivo, vinte anos depois, em 1998, em Atrás da linha vermelha (The thin red line). Caso raro na história do cinema, um realizador tão interrompido, de imensos hiatos entre um filme e outro, principalmente a se considerar um cineasta da envergadura de Malick, que possui aquilo que François Truffaut tanto prezava num diretor de cinema: visão de mundo e estilo particular, uma maneira própria de expressão pelas imagens
Outro salvador da indústria cinematográfica, Georges Lucas, que, com suas guerras estelares, estabeleceu um novo alento para os espetáculos hollywoodianos. Mas se, por um lado, Lucas instituiu a febre dos efeitos especiais, salvando a indústria, por outro, ele e Spielberg também são responsáveis pela infantilização temática que predomina no cinema contemporâneo.
O problema reside na influência que exerceram nos executivos, que estabeleceram um padrão de pasteurização para os filmes oriundos da indústria cultural hollywoodiana. Se Lucas, como realizador, é péssimo, o mesmo não pode se dizer de Spielberg, que tem alguns filmes notáveis. Mas obras mais independentes como Terra de Ninguém e Cada um Vive Como Quer foram saindo do mapa.
Terra de ninguém projeta Sissy Spacek (que anos depois viria a ter impressionante desempenho em Carrie, a Estranha, de Brian DePalma, e, logo depois, ganhou um Oscar por O destino Mudou sua Vida), e, também, Martin Sheen (que viraria um astro após o atormentado personagem de Apocalypse now, de Coppola).
Órfã de mãe, a solitária Holly (Spacek) vive com o pai (Warren Oates) numa cidadezinha do interior americano. Sua solidão, porém, de repente, desaparece, quando conhece, por acaso, um lixeiro, Kit (Martin Shenn), enamorando-se dele. Quando o pai dela tenta impedi-la de fugir com ele, Kit o mata e, depois de forjar um suicídio, incendeia o barracão. Os dois passam a viver na floresta, subsistindo por meio de roubos e assassinatos para escapar de seus perseguidores. O relacionamento do casal, no entanto, no itinerário da fuga, vai se deteriorando. O diretor se baseou em recortes de jornais que abordavam fatos reais ocorridos em Kansas em 1958.
Malick mostra com vigor personalidades doentias decorrentes do meio social asfixiante em que vivem. Retrato de recônditos habitacionais dos Estados Unidos, onde o viver não oferece perspectivas, mas, também, uma reflexão sobre a necessidade do amor em meio à solidão, Terra de Ninguém possui uma estrutura narrativa plena de momentos fortes nos quais a câmara de Malick integra, com singular propriedade, o homem à paisagem. Seus planos gerais, principalmente os do deserto, são verdadeiros quadros pictóricos. Neste particular, alguns créditos são devidos à captação da luz do fotográfo Tak Fujimoto.
Não é uma obra-prima, com alguns quiseram ver, mas um esboço de uma obra-prima, que seria Cinzas no paraíso. Mas um filme obrigatório de se ver.
0 Comments:
Post a Comment
<< Home